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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Vida no Espírito Santo
Purificai-me, ó Senhor, e ficarei puro, lavai-me e me tornarei mais branco do que a neve (Sl 51,9).
Fazia parte da antiga catequese dos catecúmenos a história de Suzana que resiste à sedução de homens corruptos, a ponto de ser falsamente acusada de adultério; injustamente exposta à morte. Todos os que se preparavam ao batismo deviam aprender dessa mulher pura e forte a fidelidade à lei de Deus e à retidão de consciência, acima de qualquer risco. Ao mesmo tempo, Suzana, libertada das intrigas dos caluniadores, por intervenção de Daniel, era apresentada como figura do batizado, desvencilhada dos laços de Satanás por meio de Cristo.
Salvo por Cristo da morte eterna, é o cristão, muito mais que a jovem hebréia, obrigado à fidelidade a Deus pela integridade da fé e da conduta. Diante das seduções e ameaças dos inimigos do bem, deve o batizado ter coragem de repetir com Suzana: "Para mim é melhor cair em vossas mãos sem ter cometido pecado diante do Senhor" (Dn 13,23).
Também registra o Novo Testamento o episódio da mulher acusada de adultério, não inocente como Suzana, mas pecadora. Como Suzana, é arrastada a julgamento por homens iníquos. Embora adúltera, é libertada, não por algum profeta, e sim pelo Filho de Deus que pode remir pecados. Às palavras: "Quem de vós estiver sem pecado, atire-lhe a primeira pedra" (Jo 8,7), vão-se "um por um" os malvados acusadores, e fica só a mulher diante do Senhor. "Ficam só os dois: a miséria e a Misericórdia", diz Santo Agostinho (Em Jo 33,5). Então Jesus – que é a Misericórdia até o ponto de ter vindo não para julgar, mas para salvar o mundo – absolve-a: "Vai e não peques mais" (Jo 8,11).
Enquanto a libertação de Suzana é símbolo do batismo, a da adúltera parece ter maior analogia com o sacramento da penitência. Embora batizado, tem sempre o homem a triste possibilidade de pecar. O mundo, então, grita por escândalo e quereria a condenação, mas Jesus, que pagou com a vida a salvação dos pecadores, quer que nenhum se perca, e perdoa: "Vai e não peques mais".
O batismo enxerta o homem em Cristo: vive o batizado da própria vida de Jesus, como vive o ramo da seiva do tronco. A penitência firma o enxerto quando se enfraqueceu, remove os obstáculos que impedem o curso da seiva divina e lhe aumenta o influxo. O sacramento da penitência é assim remédio para as enfermidades morais de todos os fiéis e, como o batismo, recebe sua força do mistério pascal de Cristo.
"A confissão sacramental freqüente – afirma o Vaticano II – favorece em sumo grau a necessária conversão do coração ao Pai das misericórdias" (PO 18). A conversão do coração é necessária não só a quem caiu em culpa grave, mas também a quem, vivendo em graça, tem, contudo, sempre necessidade de libertar-se de qualquer pecado voluntário, para alcançar a plenitude da vida em Cristo. Se somente no primeiro caso a confissão sacramental é necessária, no segundo é utilíssima para sustentar o fiel no esforço de purificação e no empenho de santidade. O sacramento da penitência, além da finalidade de remir os pecados, tem também a de curar-lhe as feridas, preservar de novas quedas, aumentando a graça, para que possa o penitente vencer mais facilmente as tendências defeituosas, resistir às tentações e praticar a virtude. Tudo isto é assegurado pela ação de Cristo operante no sacramento: é Jesus quem perdoa, cura, corrobora, "ele que nos ama e nos liberta dos pecados com seu sangue" (Ap 1,5). Daí a importância da confissão freqüente para os que tendem à perfeição.
A freqüência, porém, não deve prejudicar a seriedade de tal sacramento. Adverte o Concílio que a confissão, para ser eficaz, deve ser preparada "com exame de consciência cotidiano" e feita "com coração contrito" (PO 18.5). A confrontação diária da própria conduta interna e externa com o Evangelho mostra o que se opõe aos ensinamentos e exemplos de Cristo. É esta a pedra de toque para se controlar até que ponto a própria vida é de fato "cristã", isto é, movida por autêntico espírito evangélico, ou não o é, deixando-se ainda influenciar pelas vaidades do mundo e arrastar pelas paixões. De tal exame de consciência, feito sob o olhar do Crucificado, nasce espontaneamente a contrição do coração; e a confissão que se lhe segue será grande auxílio para se fugir do pecado, como também para se progredir na vida espiritual.
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