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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

ADVENTO:ABRE AS PORTAS A CRISTO


A porta sempre foi um elemento carregado de simbolismo, especialmente na Bíblia. Enquanto passagem de fora para dentro, do exterior para o interior, indica proteção, comunicação, acolhida, intimidade, segredo. A grande porta que o homem pode abrir, ou fechar, para Cristo é uma só e se chama liberdade. O homem é uma cidade sitiada e o pecado é o bloqueio executado com perfeição. A graça é o exército do rei que está a postos para prestar a sua ajuda. Mas é preciso que a liberdade do homem faça uma investida e vá ao encontro do exército libertador...

Se a fortaleza não receber ajuda, estará perdida: entretanto, se ela não se ajudar por si só por meio daquela investida, estará igualmente perdida. Que a liberdade deve “preceder” a graça, não significa que a liberdade possa preceder em absoluto a graça; seria uma heresia enorme ter essa impressão. Significa que deve preceder a chegada da graça, que não deve esperá-la passivamente, sem nada fazer, mas que deve ir ao encontro dela. É isso que Santo Agostinho exprimia quando dizia: “Aquele que te criou sem a tua ajuda não te salva sem a tua participação”. Única é, portanto, a porta que é a liberdade. Entretanto, ela se abre segundo a ajuda essencial da fé, da esperança e da caridade.

O Natal é a festa do nascimento de Jesus, da encarnação do Verbo de Deus, prometido desde o Antigo Testamento para vir salvar o homem da situação “terrível” que havia optado para si com o seu “não” dito a Deus, Seu Criador. Deus promete a salvação imediatamente após esta decisão, porque contemplava a dignidade violentada dos “seus filhos bem amados”.

Se há a promessa da parte de Deus do envio do Seu Filho ao mundo, da comunicação de salvação, da partilha de vida divina, deve haver uma espera cheia de expectativa, da parte dos homens, em relação ao cumprimento dessa promessa. Se de um lado há promessa divina, deve haver, do outro lado, abertura, acolhida para receber Aquele que foi enviado, deve haver preparação para receber tão ilustre hóspede, deve haver corações abertos para receber o Único que é capaz de salvar o homem do caminho de infelicidade que optou para si.

O homem que reconhece a terrível situação em que encontra-se, deseja ardentemente pela salvação, pela mudança da situação aterradora que está mergulhado. Por isso a liturgia do Advento dar um lugar de destaque para o Salmo que diz: “Portas, elevai vossos frontões! Elevai-vos, pórticos antigos! Que entre o rei da glória!” (Sl 24,7s).

Uma possível interpretação deste salmo é que ele se refira ao momento em que a arca do Senhor foi levada para Jerusalém e colocada em uma sede provisória: talvez no local de culto de alguma divindade local preexistente, que tinha as portas por demais pequenas para permitir a passagem da arca, razão pela qual foi preciso elevar o frontão e ampliar a sua abertura. O caloroso diálogo: “Abri as portas... Que entre o rei da glória!”, reproduziria, neste caso, em chave litúrgica e responsorial, o diálogo entre aqueles que acompanhavam a arca e aqueles que estavam do lado de dentro aguardando sua chegada.

Na interpretação dos Padres, as portas de que se fala neste salmo tornam-se aquelas dos infernos, por ocasião da descida de Cristo neles, ou então as portas do céu que se abrem para acolhê-lo em sua ascensão. Entretanto, são também as portas do coração do homem: “Todo homem tem uma porta pela qual Jesus entra”, diz Santo Ambrósio, citando esses versículos.

Jesus veio para reconstruir as muralhas do coração do homem que haviam sido destruídas pelo pecado e que ninguém, fora Ele, tem o poder de reconstruílas. Portanto, o homem, na loucura do seu orgulho, adentrou em uma situação terrível da qual, sozinho, não podia sair. Diante dessa realidade, cabe ao homem, abrir seu coração para receber o Salvador, que não levou em conta a sua condição divina, mas se fez homem para salvá-lo, para fazer exatamente aquilo que o homem sozinho não tinha condição de fazê-lo, mas Ele, podia fazê-lo.

O Natal é a festa da manifestação do amor misericordioso de Deus, é a manifestação bem clara da “perseguição” amorosa de Deus ao homem. Que bendita perseguição! Cabe ao homem abrir seu coração para receber infinito e abundante amor de Deus. Natal é o tempo da partilha de vida, da parte de Deus, e da acolhida desta vida, da parte do homem. É o tempo da partilha-acolhida. É o tempo do esvaziamento de Deus e do homem. Esvaziamento das duas partes, digo, de Deus, que se esvazia e desce à mais baixa situação realizada através da sua encarnação; do homem, que também deve se esvaziar para acolher a salvação que o Messias lhe concede gratuitamente.

É o tempo que Deus se faz íntimo do homem e do homem “permanecer” unido no Senhor, unido na videira para poder dar frutos de salvação. É o tempo de atar os laços da amizade entre Deus e o homem. É por isso que se usa o “pinheiro” como árvore de natal, porque o pinheiro, é a árvore que se mantém verde o ano inteiro e que possui seus galhos muito próximos do seu caule, simbolizando esta união do homem com Deus, manifestando claramente as palavras de São João que diz: “Permanecei unido a videira” que é Cristo.

O homem andava nas trevas e nelas brilhou a Luz. As trevas não acolheram a Luz, mas agora Deus dá mais uma nova oportunidade das trevas acolher a “Luz”, por isso se usa também as luzes, as velas neste tempo de Natal, porque a Luz, que é o próprio Cristo brilha novamente para acabar por completo as trevas da humanidade. Cada homem precisa reconhecer as trevas que invadem o seu coração e permitir que nelas brilhe a Luz, brilhe o próprio Cristo.

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